Escola de Psicologia abordagem à ansiedade - Parte 2
Postado por Mariana Fonte em quinta, maio 17, 2018 Em: Doenças mentais
Critérios de diagnóstico
Os critérios de definição para a perturbação de ansiedade generalizada foram revistos a cada edição do Manual(DSM), desde a sua criação como categoria diagnóstica em 1980. No DSM III (American Psychiatric Association, 1980), a ansiedade generalizada só poderia ser diagnosticada se os critérios não fossem atendidos em qualquer outra perturbação do Eixo I e, ainda, se as presenças dos sintomas (tensão motora, hiperatividade autonómica, expetativa apreensiva e vigilância e varrimento) fossem contínuas e persistentes, pelo menos, por um período de um mês (Rowa & Antony, 2008).
Como existia uma quantidade considerável de pacientes que relatavam preocupação e apreensão não relacionadas com outras perturbações emocionais, os critérios de diagnóstico para a ansiedade generalizada foram posteriormente revistos no DSM-III-R (American Psychiatric Association, 1987). No entanto, foi no DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) que os critérios de diagnóstico foram revistos de forma a que enfatizassem os processos de preocupação e expetativa excessivos (Rowa & Antony, 2008).
De acordo com o DSM – 5, o critério principal de diagnóstico para este tipo de perturbação será quando, no individuo, existe uma ansiedade e preocupação excessiva em relação a algo (eventos ou atividades escolares ou profissionais), e quando esta ocorre na maioria dos dias, por pelo menos seis meses. Esta preocupação torna-se difícil de controlar e poderá vir acompanhada de sintomas físicos que causam sofrimento ao próprio - a nível do seu funcionamento social, profissional ou em outras áreas.
Em geral, para se diagnosticar com fiabilidade este tipo de perturbação, o paciente tem de cumprir três ou mais dos seguintes sintomas (sendo que, nas crianças, apenas um item é exigido): inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele; fadiga; dificuldade em concentrar-se ou sensações ‘’de branco’’ sobre a mente; irritabilidade; tensão muscular ou perturbações do sono (American Psychiatric Association, 2014).
O paciente deverá estar livre do consumo de drogas e de medicamentos. Esta perturbação não pode, também, ser explicada por outra perturbação mental, tal como a ansiedade de separação, fobia social e entre outras (American Psychiatric Association, 2014).
Epidemiologia
A epidemiologia refere-se à prevalência da perturbação de ansiedade generalizada. Entre adolescentes, a prevalência foi de 0,9% de 12 meses da perturbação de ansiedade generalizada, enquanto que nos adultos foi de 2,9%, nos Estados Unidos. Noutros países, a prevalência – também de 12 meses - varia de 0,4% a 3,6%. O risco de sofrer de ansiedade generalizada (morbidade) é de 9% durante a vida, e varia consoante o género: indivíduos do sexo feminino têm duas vezes mais probabilidade do que os indivíduos do sexo masculino, sendo que esta tem inicio na meia-idade e vai diminuindo ao longo dos últimos anos de vida (American Psychiatric Association, 2014).
Os indivíduos e/ou descendentes europeus tendem a sofrer desta perturbação com mais frequência do que indivíduos e/ou descendentes não europeus. Também nos países desenvolvidos, a população tem mais probabilidade de sofrer desta perturbação, em comparação com países não desenvolvidos (American Psychiatric Association, 2014).
Etiologia
A perturbação de ansiedade generalizada, geralmente tem inicio aos 30 anos de idade e, se não for tratada, pode tornar-se crónica, com baixa taxa de remissão e moderada taxa de recorrência (Fricchione, 2004). No entanto, de acordo com o DSM - 5, os sintomas de preocupação e ansiedade excessivos podem revelar-se no início da vida do doente, embora sejam apenas caracterizados como temperamentos ansiosos.
É uma perturbação com baixa probabilidade de ocorrência antes da adolescência, e a idade de inicio estendese por um período mais vasto, sendo também a perturbação ansiosa que se inicia mais tarde – os sintomas são, também, mais graves nos adultos mais jovens do que nos adultos mais velhos. Geralmente, quanto mais cedo, na vida do doente, se começam a manifestar sintomas típicos desta perturbação, mais probabilidade o mesmo vai ter de lhe ser diagnosticado outros tipos de perturbações ansiosas e depressivas unipolares – comorbidade (American Psychiatric Association, 2014).
Os doentes com ansiedade generalizada, normalmente relatam que os sintomas têm sido consistentes durante toda a sua vida. No entanto, sabe-se que o conteúdo da preocupação varia de acordo com a faixa etária dos mesmos: por exemplo, as crianças e os adolescentes, tendem a preocupar-se mais com a escola e com o desempenho desportivo, enquanto que os adultos se preocupam mais com a sua saúde física e, também, com a sua família. Nos adolescentes e nas crianças, ela pode ser sentida em situações que envolvem a qualidade do seu desempenho, na escola e no desporto, como também a avaliação do mesmo por colegas ou professores – o que, geralmente, leva a que se tornem indivíduos perfecionistas, inseguros e conformistas, que se demonstram insatisfeitos quando o seu desempenho não é perfeito (American
Psychiatric Association, 2014). Um bom exemplo deste quadro, é o de uma menina de 7 anos de idade, que constantemente se recusa a realizar qualquer atividade nova e, quando faz os seus trabalhos de casa, constantemente pergunta à sua mãe se eles estão feitos corretamente, com medo de errar perante os seus colegas e professores (Castillo, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000).
Por fim, a ansiedade generalizada pode ser superdiagnosticada nesta população, isto porque os seus sintomas poderão ser confundidos com sintomas de outras perturbações ansiosas que são mais prováveis de ocorrer nesta faixa etária, tais como as fobias sociais, ansiedade de separação ou perturbações obsessivo-compulsivas (American Psychiatric Association, 2014)
Unidade Curricular de Psicopatologia
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
Escola de Psicologia e Ciências da Vida – EPCV
Andreia Matos, Bárbara Alexandre & Mariana Fonte
Em: Doenças mentais