Para não dizer que não falei das minhas mãos suadas por Octavio Rocha

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Para não dizer que não falei das minhas mãos suadas por Octavio Rocha

Postado por Rui Fonte em segunda, dezembro 5, 2016 Em: Casos

São três horas da tarde e durante todo o dia não consigo ouvir uma música sem trocar quando esta chega na metade. Mexo todos os músculos do meu corpo de acordo com a batida. Bato os dedos suados no teclado, seco-os na camiseta e repito o processo. Os pés, também suados, arrastam, cruzam-se, batem no chão enquanto encharcam minha meia.

Rasgo o canto das minhas unhas, ouço a porta da cozinha abrir, o rangido involuntário dos meus dentes, cruzo as pernas, descruzo as pernas, troco mais uma vez de música.

Eu já abri e fechei três vezes a sua conversa tentando te explicar mas deixei de lado no meio da frase porque eu precisava levantar da cadeira. Eu precisava levantar da cadeira. Na rua, enquanto evito contato visual, mordo a pele morta dos meus lábios e pergunto-me se mais alguém ouve o barulho enrugado que meus tênis produzem na calçada quente.
Eu não estou indo rápido o suficiente. Outra gota de suor escorre ao pensar que o dia de amanhã vai ser igual.

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Texto de - Octavio Rocha

Em: Casos

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