Sei que não é fácil mas não é impossível
Postado por Rui Fonte em sexta, abril 10, 2015 Em: Guest Post
Quem me lê escrevendo pode achar que eu não sofro e que eu sempre fui feliz, mas não é bem assim. Quem me conhece sabe o quanto minha mente já foi doente, triste, solitária, desesperada. Eu já senti o inferno dentro de mim, ódio do mundo, desconfiança de todos, e desesperança a ponto de querer um botão que desligasse tudo.
Mas não tinha esse botão. O que tinha era uma vida diante de mim e que só ficaria pior se eu desistisse de tentar todos os dias enxergar algo bom mesmo que em um quadro todo preto ela fosse um pingo de branco. Quando eu conseguia achava que jamais iria voltar a me sentir mal, até que um dia algo acontecia e me tirava o chão, e toda aquela vontade de desaparecer e acabar com tudo voltava. Parecia que tudo o que eu não senti de ruim durante um tempo voltava de uma vez, com uma força tão feroz que me fazia achar que a felicidade e a paz que eu tinha experimentado foi uma mentira, uma ilusão, e que meu destino era sofrer.
Mas não era. Não é. Nem o meu, nem o seu.
Contudo, eu tive que decidir se eu ia me ajudar a me levantar ou a me derrubar. Eu optei por não me deixar levar pela tristeza. Não importa se ela queria me por para baixo, eu queria (quero) ir para cima e não ia (nem vou) desistir de viver bem. Afinal, se eu sou obrigada viver que seja agradável. E vida nenhuma consegue ser agradável se a gente não se esforçar todos os dias. Sim, esforçar. Eu achava que bem simplesmente deveria acontecer. Mas não funciona assim. Tudo para nascer e crescer precisa de cuidado diário, incessante. Não adianta começar e parar. Você pode até conseguir algo (há coisas que nascem rápido), mas não vão durar muito se você parar de se empenhar no cuidado. Hoje eu estou fortalecida para muitas coisas.
Coisas simples que derrubavam não fazem cócegas. Mas até chegar aqui foram dias e dias me lembrando de tudo que divido com vocês. Quando eu estava bem lembrava para continuar assim, quando estava mal lembrava para melhorar.
O desespero a ponto de querer o botão de desliga bateu duas vezes durante o processo; a vontade de me machucar umas cinco; a dúvida se eu realmente seria capaz de fazer algo bom da vida umas cinquenta; a incerteza do meu valor e importância, o medo de não dar conta de mim mesma e ser infeliz nem se conta. Mas em todas elas eu me lembrei do que havia decidido - me ajudar - e eu consegui.
Foi rápido?
Depende. Um ano e seis meses pode parecer muito, mas em comparação aos anos que eu passei duvidando de mim, oscilando de humor, insatisfeita, incompreendida e confusa foi rápido. Fácil? Nem um pouco. Calar quando antes você respondia, ceder quando antes você só cobrava, perdoar quem te fez mal, amar apesar dos defeitos, perceber sua responsabilidade em tudo o que te acontece, decidir fazer sua parte mesmo quando o outro não vai fazer, nada disso é fácil, mas é necessário. Assim como foi necessário entender que eu podia chorar as tripas, mas que se eu quisesse que o outro dia fosse diferente, precisaria ter atitudes diferentes (e às vezes o diferente é se consolar em vez de se acusar, se animar em vez de botar para baixo, se dar esperanças em vez de catastrofizar tudo) ainda que a vontade fosse apertar o botão e desligar tudo.
Contributo de Tamires Damasio
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